segunda-feira, 12 de março de 2018

Brandon Boyd reinventando o Incubus e abordando a América de Trump no novo disco '8' (Entrevista)

Traduzimos a entrevista que Brandon deu ao site Music Feeds da Austrália.

Ontem eles fizeram em Brisbane (Austrália) o último show da turnê pela Ásia e Oceania, agora eles seguem para o Havaí. 
Aqui todas as datas dos próximos shows.

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Brandon Boyd reinventando o Incubus e abordando a América de Trump no novo disco '8'


Entrando em seu 27º ano de existência, os roqueiros californianos do Incubus estariam dentro de seus direitos de ficar num circuito nostálgico e ficar o resto do tempo remoendo seus hits ‘multi-platinum’ de anos atrás. Mas, como uma peça única de seu oitavo disco de estúdio, ‘8’, eles deixam bem claro, o Incubus ainda é uma força criativa a ser considerada.

Com um esforço energizado e experimental, ‘8’ encontra a banda em forma de rachaduras, exibindo ondas musicais e composições de músicas que muitas bandas mais novas matariam para ter, enquanto faziam perguntas aos ouvintes e ao mundo com cada nota.

É um corajosa declaração de intenção da banda, liderada desde o início pelo, vocalista/pintor/autor/cara atraente de 42 anos, Brandon Boyd, um homem cuja produção artística, perspectivas profundamente espirituais e esforços filantrópicos inspiraram milhares de fãs em todo o mundo, a obter tinta em sua homenagem (e sem dúvida, milhões hiperventilam quando o vêem ao vivo).

Na primeira turnê da banda na Austrália, em mais de seis anos, Brandon foi gentil o suficiente para falar com o Brenton Harris da Music Feeds, dando uma visão esclarecida sobre o processo criativo, suas opiniões políticas e ideais, assim como a busca contínua de reinvenção da banda.


MF: Brandon, obrigado por ter tido tempo para conversar com o Music Feeds, como vai a vida?

BB: A vida esta adorável, obrigado por perguntar, como está para você?


MF: Muito bem na verdade, e uma das razões para isso é que o Incubus está vindo para a Austrália para uma série de shows em seis anos, divulgando o ‘8’! Você está tão entusiasmado para estar aqui para esses shows, assim como seus fãs estão por vocês estarem de voltar?

BB: Ah, sim, cara, estamos extremamente entusiasmados, nós amamos, amamos, amamos, AMAMOS ir para a Austrália, por tantos motivos, um deles não menos importante, é que não vamos lá tão freqüentemente, então sempre é especial, mas também porque a Austrália e a Califórnia são muito parecidas, sempre sentimos como se estivéssemos em casa e não a milhares de quilômetros de distância quando tocamos lá, e também sempre conseguimos fazer shows legais, então estamos ansiosos para voltar para casa, por assim dizer.


MF: Eu concordo com essa noção de sermos espíritos afins, sempre me senti muito confortável na Califórnia, quando visitei e apreciei as pessoas por sua bondade, então é bom ouvir que você se sente em casa quando você visita a Austrália. 
Muitas bandas se esforçariam para encontrar novas direções sonoras e líricas para explorar no momento em que compõe o oitavo disco, mas vocês conseguiram fazer as duas coisas no ‘8’, resultando em um disco com um som muito fresco, havia algo específico que fosse inspirador para o Incubus durante o processo de criação?


BB: Como artista, tive alguns momentos na minha vida onde senti como se estivesse bloqueado para escrever, para pintar, e o que eu aprendi é que a criatividade é um animal dinâmico, que existe em um nível de consciência próprio. Quando chega, eu gosto de recebê-lo na minha casa, cuidar dele, cultivá-lo e conseguir o máximo que posso, até que ele decida voltar para casa novamente.

Eu tenho muitos amigos que são artistas que quando a criatividade deixa sua casa, eles tomam isso de forma tão pessoal, e eles se deixam vencer por isso, quando eu finalmente entendi que é algo que vem e vai, que é como uma pedra rolante e que lisonjeia quando aparece, mas as pessoas entram no modo de crise quando é hora de sair. Então eu faço o meu melhor para não me ofender quando isso acontece comigo e, em vez disso, tento me concentrar nas coisas que são propícias para que essa criatividade flua novamente, descobri que estar na minha casa, ter a capacidade de pintar e surfar, mas também ter a capacidade de sair em turnê e, literalmente, mudar o cenário e ver algo novo, tem sido um método bem sucedido até agora.


MF: O clima político atual nos EUA definitivamente parece ter influenciado alguns aspectos do disco ‘8’, para uma banda que não é conhecida por ser abertamente política, fora o ativismo ambiental, no ‘8’ você realmente se inclinou na direção política, era algo que você simplesmente não podia ignorar?

BB: Eu não diria que é um novo território, há várias músicas antigas que se concentraram em questões políticas, mas definitivamente há mais no ‘8’, e é porque o mundo é um lugar muito grudento culturalmente e a América está agindo numa parte interessante a esse respeito, as vezes você se sente como parte de um gigante experimento científico, onde nunca vamos ver o fim, mas definitivamente é algo que inspira um para se abrir sobre isso.

É também uma mudança muito rápida, culturalmente em casa, a medida em que começamos a escrever o ‘8’, Trump estava só declarando que estava se candidatando a presidente, e então, antes de terminarmos, ele realmente foi eleito e senti como se tivesse acordado em um mundo completamente diferente. Parecia que as pessoas o elegeram como um ato de dissidência política, ao invés de qualquer pensamento nas conseqüência, e as consequências daquilo tem sido uma constantemente devolução. O que vou dizer é que é crise política e cultural, porque é o que é para nós, é uma crise cultural, e atua como uma grande musa criativa, faz uma arte boa.


MF: Incubus faz 27 anos este ano, mas vocês nunca foram bem sucessos em ser rotulados em um tipo de som, ou movimento, ou um período musical, sem levar em conta o empenho de alguns segmentos da imprensa em tentar classifica-los como nu-metal, vocês sempre permaneceram distintamente 'Incubus', como vocês conseguiram escapar de serem rotulados?

BB: É um truque muito simples e vou compartilhar com você agora, nos cobrimos com óleo de bebê, constantemente, assim ninguém pode nos agarrar!

Honestamente, não sei a resposta verdadeira pra essa pergunta. Só sei que desde o início até hoje mantivemos muita seriedade sobre a nossa arte e o processo criativo, e sempre acreditamos que a curiosidade é um ingrediente muito vital e necessário, e eu sei que como cantor, compositor e pintor, sou tão curioso, se não mais curioso agora do que eu quando começamos a fazer isso, e isso continua me inspirando a jogar mais cores na tela, para ver o que acontece.


MF: Você acha que a dedicação a essa autenticidade no processo criativo e não ter um som rotulado ajudou vocês a escaparem da nostalgia de um disco retrospectivo, que muitas bandas de uma era similar a de vocês parecem presas, você já consideraria fazer um desses tipos de turnê?

BB: Ainda não, ainda não. Há ainda uma vitalidade em nossa banda, uma curiosidade sobre o território novo e o desejo de criar e explorar, então vamos continuar procurando por isso, e quem sabe um dia talvez encontremos a resposta para essa curiosidade e diremos "oh, olhe, está lá, é o que tínhamos procurado durante todo esse tempo" e vamos pegar nossos instrumentos e decidir que é tempo de turnê de nostalgia, mas espero que estejamos com 55 nesse momento.


MF: Você provavelmente ainda estará se balançando, no estilo Iggy Pop.

BB: Eu espero por isso, sinceramente!


MF: Você é pessoalmente um artista multidisciplinar, tendo sucesso trabalhando com arte visual, escrita e, claro, música, há elementos da sua personalidade que você expresse de forma mais fácil, ou fácil em um meio do que outro?

Definitivamente se informam, mas também têm uma energia própria. O visual, eu gosto de descrever que é uma única árvore, com um sistema de raiz compartilhado, cada meio ou saída criativa é uma ramificação. Em certos dias, eu estou em cima de um ramo, em outros dias eu estarei em cima de outro, mas em outros dias vou me concentrar em pensar sobre como a árvore se parecerá se crescer outro ramo. O que eu tento fazer, para usar mais essa metáfora, é garantir que a árvore esteja coberta de flores tanto quanto possível, quero nutrir esta idéia de não apenas arte, mas criatividade.

O que é viver uma vida criativa? O que significa ser consistente no processo criativo? Produzir diferentes tipos de frutos, ao invés de apenas dizer "vou escrever uma música e vai ser uma música de sucesso”, é muito mais interessante para mim explorar como seria uma música que possa mudar a mente de alguém, ou inspirar alguém a agir com uma força positiva, ou eu quero pintar uma imagem que faria alguém se fazer uma pergunta que nunca fez antes. Estou muito mais interessado agora no processo criativo como uma filosofia do que qualquer outra coisa, se isso faz sentido?


MF: É, definitivamente, e na minha opinião é um ato de coragem, de colocar tanto de si, continuamente, para o público ver e ouvir do jeito que você faz, isso deixa você desconfortável, tão exposto ou já deixou?

BB: Sempre há uma sensação muito palpável de vulnerabilidade sempre que faço alguma coisa. Quando lançamos discos novos, meu coração fica batendo três vezes mais rápido por cerca de duas semanas, fico nervoso e ansioso, vulnerável e tenso, mas depois lembro que eu faço isso porque tenho esse impulso irresistível de fazer as coisas, então eu sinto que é um bom exercício para mim como ser humano, continuar a aprender que a vulnerabilidade não precisa ser ameaçadora, e aprendi a cada vez que, à medida que o medo do processo desaparece, o crescimento como artista e como um ser humano aparece como recompensa, que muitas vezes inspira mais criatividade.

MF: Essa é uma perspectiva fascinante e auto-consciente, se houver um músico ou artista em desenvolvimento lutando para colocar sua arte pra fora, por conta dessa vulnerabilidade, quais conselhos você daria para superar esse medo?

BB: Eu costumava ter um pesadelo recorrente quando era criança. Quando começava a adormecer, eu ia caindo em um vazio preto, e havia um tambor batendo, como um tambor de guerra, cada vez mais rápido e mais alto e mais alto, e agora fazendo uma retrospectiva, eu entendi que era o meu próprio batimento cardíaco acelerado, mas eu sentia como se fosse um tambor de guerra, que continuava batendo e batendo e sempre acordei desse sonho antes de chegar ao fim, porque eu estava aterrorizado que algo acontecesse. Eu era pequeno quando tive esse sonho, mas teve um momento que eu tinha 12 ou 13 anos que fiquei cansado de acordar, e comecei a me testar e decidi que iria cair no fundo desse vazio para ver o que estava lá, e o que era tão intimidador disso e por que era tão assustador. Cheguei ao fundo do poço e não havia nada lá, e então nunca mais tive aquele sonho. Então, o meu conselho para jovens artistas é apenas ficar de frente com o que você tem medo e enfrentar de frente, porque você vai perceber que não há nada para temer, é só você lá, só você, então, o que está lá para temer?

MF: O Incubus sempre se comprometeu em devolver, através da filantropia com a Make Yourself Foundation, e o ativismo ambiental, o que impulsiona esse desejo e existe algo forte que você ache importante e gostaria de impactar positivamente através da sua base de fãs?

BB: No momento, como estamos em turnê, estamos basicamente em fase de angariação de fundos. Ao longo dos últimos anos, o dinheiro foi para muitas situações de ajuda de desastres, porque houve muitos desastres naturais acontecendo ao redor do mundo.

O impulso para continuar a fazer esse tipo de atividade é porque se você tem essa oportunidade, essa habilidade de arrecadar dinheiro, e aumentar a consciência, e impactar o mundo de forma positiva, de uma maneira muito tangível, então, por que não? É importante que todos façamos nossa parte para tornar o mundo um lugar melhor, e deixar o mundo em um lugar melhor do que era quando chegamos, por isso estamos todos empenhados em garantir que continuemos a contribuir, de qualquer maneira que possamos, no futuro.

MF: Esse é um sentimento muito nobre e é ótimo ver essa atitude, de continuar a se comprometer em fazer o bem para o mundo, quando, na realidade, você pode optar por fazer qualquer outra coisa com os frutos do seu sucesso. Me falaram que devemos seguir caminhos separados agora, então, obrigado por ter tido tempo para conversar com o Music Feeds hoje, esta foi uma entrevista realmente esclarecedora e uma discussão que eu adoraria continuar com você quando você estiver em Melbourne.

BB: Qualquer hora cara, obrigada pelo seu tempo também, nos vemos em março.